Fabí Machado

Fabí Machado Escritora

Um ato de coragem

Fabí Machado

Fiquei pensando muito sobre o que escrever no meu primeiro post deste blog. Para quem não sabe, meu nome é Fabrícia, tenho 38 anos e sou professora de História e Geografia, atualmente cursando Doutorado em Educação.

Mas você não escreve romances?

Aí que começa o nosso assunto… e olha que “tem pano pra manga”.

Sempre gostei de ler e escrever. Nasci e cresci em uma família que morava em uma comunidade pesqueira no interior de Santa Catarina. Ou seja, nunca passei necessidade, só que minha família tinha prioridades, e livros não estavam na lista.

Entrei na escola praticamente alfabetizada, num trabalho dos meus pais, que à sua maneira acabaram me ensinando as letras e as principais operações matemáticas, mesmo sem terem na época finalizado os anos iniciais do ensino fundamental. Minhas primas brincando de escolinha também tiveram seus créditos nesta jornada.

Ainda me lembro do meu primeiro dia de aula lá em 1992, quando a professora entregou uma folha para desenhar, só que no quadro tinham algumas continhas de adição. Meu primeiro ato de coragem estava ali. Deixei os lápis de cor de lado (desenhar nunca foi meu forte, rsrsrs), copiei e resolvi aquelas operações. No decorrer do ano me apaixonei pelas historinhas da cartilha, como o patinho feio e as reinações de Narizinho.

Minha segunda escola também foi no interior. Quando todos foram para as escolas do Centro da Cidade, lá estava eu, pedindo para estudar perto dos primos. Também era uma fuga (deixaremos isso para um próximo post).

Nesta escola tinha uma biblioteca. Era uma sala apertadíssima com duas estantes de livros. Para mim era um sonho! Eu sempre dava um jeitinho de escapar e pegar um livro diferente. Lá eu me apaixonei pelos livros de aventura. Não sei se cheguei a ler todos, mas a grande maioria, pode apostar que passou pelas minhas mãos. Chegou um ponto que não tinha mais nada que me interessasse. Foi então que houve um novo ponto de virada: o professor que ficava na biblioteca disse que no Centro da cidade tinha uma biblioteca enorme, só que ele não lembrava como se fazia a carteirinha. A minha memória mais vívida foi ele tirando uma daquelas listas telefônicas amarelas e anotando o número da biblioteca. Meu segundo ato de coragem foi guardar o dinheiro do lanche e comprar fichas telefônicas. Descobri os documentos e incomodei tanto a minha mãe que logo tinha a carteirinha em mãos e a tenho até hoje!

Foi nesta mesma época que comecei a escrever. No meu caderno havia poemas, pensamentos soltos, e é claro, os desabafos típicos da adolescência. Eu tinha uma história na cabeça e comecei a colocá-la no papel, só que o medo que alguém a lesse era devastador. Eu arrancava uma folha, escrevia e escondia. Não fui tão corajosa e nem incentivada a ser.

O tempo passou e o amor pela leitura e escrita adormeceu. Foi só durante a Universidade que este amor voltou com tudo. Confesso que tem a ver com o momento muito conturbado e a imaturidade que tinha no período em lidar com certas situações de forma mais tranquila, então a leitura se tornou o meu ponto de fuga. Nesta época, li clássicos nacionais, histórias de época, Crepúsculo (tinha acabado de sair o filme, rsrs), e é claro, que Harry Potter me arrebatou de tal forma que li todos os livros em 2 meses. Eu respirava JK Rowling.

Só que o meu maior ato de coragem veio em 2020. Imagina que no auge da pandemia de Covid-19 eu descobri que estava grávida. Lembro-me de anunciar na escola que leciono e na outra semana entramos em quarentena que durou meses. Trabalho remoto, barrigão e gravando aula. Não aguentava mais ficar trancada e para passar o tempo ocioso, assinei o Kindle Unlimited e logo em seguida comprei meu kindle. Imagina ter uma biblioteca na palma das mãos. Vocês nem imaginam o quanto eu li.

Em setembro de 2020 meu filho nasceu e não podíamos ter nenhum tipo de ajuda, porque a vacina ainda nem tinha chegado para todos. Meu marido e eu nos desdobrávamos nos cuidados, tentando “dar conta” de todas as demandas. Eu virava as madrugadas amamentando e lendo. Em uma dessas noites, prestes a entrar em uma sala de cirurgia (tive complicações pós-parto), eu tive medo. Nós nunca sabemos quando será o fim da jornada.

Abri o bloco de notas do celular e comecei a escrever a minha primeira história. Se eu retornasse daquela sala cirúrgica, a terminaria. Nem imaginaria que dali a três meses eu teria que realizar outra cirurgia. Mas sobre o que eu escreveria? Fazia pouco mais de 1 ano que tinha realizado o sonho de conhecer o deserto do Atacama. Falei: por que não? Nascia ali “Sob o Céu do Atacama”. Levei um tempo para contar ao meu marido e depois da história pronta e revisada, mais um tempo para publicá-la.

Nascia a escritora de romances Fabí Machado. E olha que tenho um orgulho danado dela!

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